texto sem pretexto

Sofia
2 min readOct 26, 2020

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uma janela com a vista do mar ao entardecer, céu roseado, e uma fina cortina balançando num quarto escuro
foto por Dameli Zhantas @zhantasdameli

Tem coisas que só os textos entendem.
Textos não aumentam o tom de voz como se fossem pavões, machões.
Estão esperando um olhar distraído cair sob eles.

Textos não te ofendem quando você não entende o que está escrito.
São pacientes, tome quanto tempo quiser.

O que são os textos, fora todas metáforas e personalizações que deles fazemos?

Esse texto me machucou. Esse texto é rude. Esse texto é humilde. Esse texto é intimidante. Esse texto isso e aquilo. Esse texto.

Bem, esse texto é minha forma de dizer que às vezes prefiro escrever do que conversar. Mas também não é como se o texto fosse um animalzinho de estimação que a gente pode falar qualquer asneira e ele continua ali ronronando, dormindo. Aqui eu tenho tempo para me expressar da melhor forma que eu julgar. Tenho a chance de me corrigir. Tenho espaço para expor minhas ideias.

Às vezes pessoas são opulentas, devoradoras, insanas, dementadoras. Não te deixam terminar uma frase. Não te escutam de verdade, só estão esperando a vez delas de falar alguma coisa, qualquer coisa. Não querem saber se você mudou de ideia. Não querem nem saber qual a sua ideia.

Textos são fontes de esclarecimento, te escutam até o fim. Às vezes é até estranho porque, em geral, são sinistramente silenciosos. Fazem você mesma perceber quando passa dos limites.

Textos são termômetros. Medem seu humor, suas palavras, sua razão, sua demência. São sensores. São sensíveis.

Sem os textos eu seria um turbilhão oco, uma série de ideias mal pensadas, não expressas, empilhadas na memória da forma mais tosca possível. Seria menos. Seria pretexto.

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